O professor da disciplina de Projeto em Multimídia, também artista, Hermes, comentou aqui no blog. Lembrou o pessoal da Crítica Genética, de que ele já havia falado em aula, que valoriza o processo criativo como parte fundamental de qualquer obra de arte. Como acontece no pós-modernismo, mundo contemporâneo, ou como quer que se queira chamar essa panacéia desvairada que é o Hoje. Vejam o site do
Dimenti, é um grupo de teatro baiano (eu sou baiano).
Hermes também tocou num assunto para mim deveras delicado: Interatividade. De uma tacada: Eu não gostaria de construir uma obra de arte interativa porque dificilmente obras interativas me impressionam. Agora devagar:
Normalmente as coisas interativas que vejo por aí se parecem mais com brinquedos, dificilmente alguma coisa escapa do fetichismo tecnológico, do
"olha o que eu consegui fazer!". Lógico que é uma generalização porca como qualquer outra. Já me enfiei em boas reflexões e já me emocionei muito, por exemplo, com o
I Want You To Want Me.
Mas, confesso (apesar dos desígnios da disciplina), que me inclino bastante para o lado das obras que são feitas para se contemplar, apreciar. Debray, o pensador que mais tem me influenciado ultimamente, diz que a secularização trazia a promessa de uma espiritualidade laica, em que contemplação, representação, distância, trarizam em si propostas civilizatórias unificadoras. Quanto menos o homem contempla e representa, menos ele tem vida pública, mais ele se torna para dentro de si, sem alteridade, sem sociedade. Penso, nesse sentido, que interagir com uma obra é trazê-la para sua cognição, fazê-la operar conforme um esquema cerebral próprio, trazê-la para dentro de si. É uma forma de delírio narcisista. Eu gosto de pensar num ser-humano que saiba reconhecer o que está fora de si mesmo, a famosa Alteridade.
Sinceramente acho que as pessoas precisam se dar
mais tempo para ficarem paradas. Aliás, quero falar precisamente sobre isto. Ok, não tão precisamente: quero falar que estou na contramão dessa correria desenfreada, dessa compulsão por informação e por consumo.
Não sinto desconforto em andar nesta contramão. Mesmo que eu me coloque assim na contramão de minha própria geração, do
irônico progresso. Pode me chamar de conservador, mas acho que interação, só no sentido da interpretação, da aproximação pessoal de cada um à obra.
Obra Aberta, sempre.
(Claro que eu posso mudar de idéia. Falo as coisas com convicção justamente para testá-las.)