SAY THE WORD AND YOU'LL BE FREE

2009/05/24

Algumas tríades interessantes

Esta é do filme Os Sonhadores, de Bertolucci. Belo filme, e esta é uma belíssima cena. Existe um plano em que aparecem apenas os três espelhos, numa disposição muito parecida com aquela em que imagino os aparelhos de TV da minha instalação. O filme passa uma reflexão sobre a juventude parisiense dos anos 60, em meio às agitações políticas, cinéfilas e etc...

O Pai, o Filho, o Espírito Santo. Ligue os pontos. Até Jesus Cristo, o pensamento dicotômico que opunha Idealidade e Realidade era o mais comum. O pensamento triádico é mais flexível e funciona melhor para a humanidade.

Quatro anos atrás, escrevi um textinho porque tenho um certo apreço. Era sobre o número três. Depois, mais culto e estudado, tomei conhecimento de diversas reflexões em torno do número, da santíssima trindade ao triângulo edipiano. Inclusive a idéia freudiana do Terceiro Excluído está muito de acordo com o meu textinho. De modo que não me posso crer inventor da idéia, na cultura tudo está relacionado, tudo se manifesta impregnado e oculto. Xuxa é sartriana.

Retorno então às tirinhas. Independente do conteúdo machista desta tira, que não vou comentar, me interessa muito o segundo quadrinho inteiramente dedicado à reflexão. Me interessa mundo essa lógica desenvolvida em três imagens, mesmo que, aí, pouco mude de uma imagem para a outra. Misturando a idéia da linha de raciocíno com a flusseriana contemplação circular das imagens, teríamos aí uma espiral de raciocínio?

Meu trabalho será uma Tirinha-cinema, ou um Cinema-tirinha. O vídeo, forma que pensa, é minha ferramenta para encarnar esta idéia, materializar este pensamento. Acho que estou bem.

2009/05/18

Dag Alveng

A série I Love This Time Of Year (e outras) do fotógrafo Norueguês Dag Alveng, está em exposição na galeria da Caixa Cultural, no Conjunto Nacional da Av. Paulista. Com uma câmera de médio formato, ele expunha cada negativo 4 vezes, cada vez com um giro de 90 graus no eixo da câmera. O resultado é uma composição rítmica muito interessante:

Basta dizer que foi uma exposição que me inspirou bastante, e me deu ainda mais vontade de investir em belas imagens e nesse tipo de olhar, que a imagem técnica pode proporcionar.

2009/05/16

Citações e Reflexões

"As certezzas racionais são, geralmente, negativas; aí é que está o busílis. São as que impelem vocês a aconselhar algúem a não fazer isto ou aquilo, a não acreditar, a não etc. Isso não lhe dá absolutamente nennhum entusiasmo. O inconsciente, em nós, rejeita o negativo e não gostamos daqueles que nos prestam serviço, dissuadindo-nos de fazer algo de que temos vontade, ainda que saibamos que têm razão. O inconsciente quer sonhar, em plenitude, com algo positivo.
(...)
Vós que tendes a pretensão de transmitir, hipócritas auditores, meus irmãos na divulgação de notícias, escutai meus conselhos. Contem histórias e deixem de dar lições. Sejam breves apresentando algo de portátil. Sejam positivos, aifrmativos, otimistas. Apresentem-nos belas imagens em vez de palavras grosseiras. Em vez de teoremas, parábolas. Um clip vale mais do que um discurso."
Régis Debray, em A Experimentação Cristã, Curso de Midiologia Geral
Aí está. No post anterior, desisti do discurso e da idéia racional. Voltei a preferir um clipe, com belas imagens. Debray diz que uma mensagem positiva tem muito mais chance de se impregnar no inconsciente que uma negativa. E sabemos que o inconsciente leva larga vantagem na disputa com a razão.

E, já que meu medium é o vídeo:

"Instalações são cenografias, geral cheias de telas, um tanto vastas e complexas, que implicam o espectador em múltiplas relações - físicas, perceptivas, afetivas - com configurações de espaço e de tempo que valem e significam, tanto ou mais por elas mesmas quanto pelas imagens que nelas aparecem.
(...)
O vídeo não é um objeto, é um estado. Um estado da imagem, uma forma que pensa. O vídeo pensa o que as imagens (sejam de cinema, artes plásticas, ou quaisquer outras) são, fazem e criam."
Philippe Dubbois, em O Vídeo: Uma Forma Que Pensa
Pensarei, então, com o vídeo. Estou chegando perto de uma idéia final. E é necessário, já que é necessário iniciar a execução logo. (Ou pelo menos a uma primeira versão. Obra Aberta, sempre.)

2009/05/08

Vídeo

De repente me ocorreu um pensamento que é antigo em mim, e que estava inativado: é muita arrogância querer dizer às pessoas qual é o melhor jeito pra elas viverem. Por mais que eu ache tudo muito estúpido, não tenho direito algum de me meter. Posso apenas cuidar dos meus assuntos. Posso, quando muito, me mostrar ao máximo, para descobrir quem, neste mundo, vai andar comigo.

Vou contar aqui de uma idéia que me alegrou por alguns dias, mas que passei a achar exatamente arrogante demais, e que é melhor eu respeitar os mais velhos. Seria assim, em forma de intervenção urbana:

O Tríptico fica na rua, junto dele, uma rodinha de cadeiras com um ator caracterizado de alguma maneira exótica. Uma mesinha no meio com diferentes tipos de chá e algum tipo de cartaz que convide as pessoas a se sentarem, algo como "Sente cá e tome um chá!". Uma das telas mostra o que está de fato acontecendo lá (ou o que já aconteceu em outros lugares onde a intervenção já foi feita). As outras telas mostram imagem que sugerem temas da vida, como O Trabalho, O Amor, O Ócio, A Curiosidade, etc... O ator teria a função de fazer as pessoas conversarem sobre estes temas. Assim, provocando nessas pessoas a reflexão sobre certos temas, a intervenção espera ter contribuido positivamente para o crescimento de cada ser-humano.

Descartei essa idéia por dois motivos:
1- Não me arrogo a sabedoria pra dizer no que as pessoas têm e não têm que pensar.
2- O papel do vídeo e da tecnologia como um todo, neste trabalho, é pequeno...

... É pequeno porque eu queria ir na contramão da presença ostensiva das tecnologias de imagem e comunicação na vida cotidiana. Agora me ocorre uma idéia diferente: contestar esta presença por uma extrapolação ao absurdo. Fazer a crítica do vídeo usando o vídeo. Um anti-vídeo, um contra-vídeo, übber-vídeo...

A característica filosófica marcante do vídeo, e da contemporaneidade, é a liquidez.
E o meu dever de casa, então, é estudar o vídeo. Começo com, claro, Debray, e vou passar por Dubbois. Sugestões?

2009/05/05

Idéias

A minha dificuldade para este trabalho reside em que, na atual configuração da minha vida e das coisas que eu penso sobre a vida, tenho vontade de realizar uma obra que não só seja bonita e interessante, mas que incite à reflexão. Eu sinceramente gostaria que as pessoas encarassem a vida de um jeito um pouco diferente. É uma busca que eu mesmo faço: tentar viver com mais calma, mais gentileza e elegância, mais amor. Não um amor pessoal por todas as pessoas, mas um amor pela vida, pela humanidade, pela natureza.

O que eu vejo é que tudo é muito voltado estritamente para o mercado e o consumo. As noções de sucesso e de vida boa mais difundidas estão sempre em ligação inexorável com o sucesso financeiro. A própria educação, no fim das contas, é voltada para isso. Me irrita um pouco ver, de dentro de uma universidade pública, tantos professores falando abertamente que sua função é formar os alunos para que entrem no mercado.

Eu penso que a função da educação pública é, em última instância, tornar o país um lugar melhor. Só que a própria idéia de lugar melhor como sendo um país economicamente desenvolvido e produtivo é muito distorcida. O lugar melhor, pra mim, é uma práia. Onde a atividade econômica mais bem sucedida é a de vendedor de côco gelado.

De modo que, se um dia eu me encontrar trabalhando 60 horas por semana num cargo de ponta de uma grande empresa, não importanto o tamanho do meu salário, pensar-me-ei um grande fracasso na vida.

O ponto central é que a experiência urbana está repleta de ódio e violência, e a mim só interessa viver com amor e paz. Isto é fruto de uma longa reflexão que faço ao longo da minha vida, e que está longe de ser concluída, mas eu sei neste ponto que vivo mais feliz desde que resolvi ter o amor como princípio.

São coisas que eu quero compartilhar. Ainda não sei muito bem como.